Desde os meus 11 anos de idade, convivi com meu pai, Zanine Caldas, profissionalmente. Ele era um designer de móveis e arquiteto autodidata, que trabalhava com maquetes de casas para arquitetos de todo o Brasil.
Na época, eu ajudava meu pai na execução das maquetes e miniaturas de móveis. Com o tempo, ele ficou conhecido por seu trabalho e começou a ensinar maquetes em universidades.
Mais tarde, meu pai começou a projetar e construir casas em um estilo próprio, com estruturas de madeira. Nessa época, nós começamos a produzir móveis maciços com as sobras das toras.
Os móveis eram feitos à mão, com ferramentas simples como machado, formão e enxó. Alguns deles eram carimbados com a marca Zanine, usando ferro quente. Com o tempo, as casas ganharam mais impulso e os móveis foram perdendo força. As toras mais grossas, necessárias para a produção dos móveis, tornaram-se mais difíceis de encontrar, o que dificultou a produção. Com o declínio da produção dos móveis, em conjunto com o auge da produção das casas, alguns móveis foram entregues sem o carimbo da marca, revelando assim o fim da produção dos móveis Zanine no início dos anos 80.
Eu sou um exemplo de como o talento e a paixão podem ser transmitidos de geração em geração. Meu trabalho é uma homenagem ao legado do meu pai, José Zanine Caldas, um dos maiores arquitetos e designers do Brasil.
Anos mais tarde, o empresário chegou ao Espírito Santo e por aqui concretizou o antigo desejo. Contudo, a casa idealizada na juventude sofreu uma pequena alteração quanto à matéria-prima: em vez de eucaliptos, o projeto foi construído com base em dormentes de madeira, encontrados em abundância naquela época, devido aos descartes das estradas de ferro.
E assim, no alto da colina, com vista privilegiada da Baía de Nova Almeida e Praia Grande, ergueu-se uma obra singular: uma casa de praia com paredes formadas apenas por dormentes. Hoje, o local abriga o restaurante Ninho da Roxinha, famoso por seu Leitão à Pururuca.
Com concreto apenas em sua base, a casa ostenta paredes de 3m de altura e incríveis 30 cm de espessura. “Este projeto exigiu que toda a estrutura fosse erguida em camadas. Os dormentes são dispostos lado a lado, até formar a primeira. Na sequência, aplica-se uma mistura de cola branca, pó de serra e limão para fixar a segunda, e assim por diante. Esta técnica é necessária para manter o nivelamento dos dormentes. A vantagem é que a casa é erguida por inteiro, em um só bloco, e quando a última peça é fixada, a obra está praticamente concluída”, explica o arquiteto Zanine Filho.
O espaço para portas e janelas, assim como o caimento do telhado, foi talhado na própria madeira, com impressionante precisão. “São detalhes como esses que tornam o projeto ainda mais interessante”, afirma. Na obra foram utilizados cerca de 3 mil dormentes, peças que medem 2,80m de comprimento e chegam a pesar 110 kg.
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Ela estava no centro do terreno onde a construção seria erguida.
O destino da velha árvore era quase certo: o chão. Mas eis que surgiu nessa história o arquiteto carioca Euclides Zanine Caldas Filho: contrariando todas as expectativas, ele propôs com seu projeto não só a preservação da árvore, mas também seu aproveitamento como ponto de partida do trabalho. Assim foi feito. A casa, erguida exatamente atrás da árvore, dá a impressão de já estar ali há muito tempo. E também ganhou personalidade, pois fugiu do padrão deste condomínio, onde as outras construções ficam sempre perto da estrada. O episódio traduz a preocupação constante de Zanine com a natureza. Foi a certeza do respeito, aliás, que levou o casal Benjamin Baptista Filho e Jussara Pires Baptista a contratá-lo para desenvolver o projeto desta casa de campo. Apaixonados pela região (Parque Estadual da cidade de Pedra Azul), os dois queriam uma moradia que se harmonizasse com a beleza do lugar. Benjamin cresceu no Rio, onde havia conhecido as obras de José Zanine Caldas, pai de Euclides – arquiteto autodidata cujo trabalho também valoriza o entorno e a integração com a paisagem. Quando descobriram Zanine Filho em Vitória (ES), cidade onde residem, tiveram certeza de ele seria o profissional certo para traduzir seus sonhos. A região montanhosa, distante 80 quilômetros de Vitória, oferece uma temperatura média de 17 ºC (15 ºC mais baixo do que na capital capixaba), que chega a cair par a 5 ºC no inverno. Ou seja, dá até para acender a lareira nos dias frios. A cidade, que fica a 1200m de altitude, é uma região de beleza equivalente à Petrópolis, no Rio de Janeiro, ou Campos de Jordão, no interior de São Paulo. E este terreno, como se vê, é um trecho privilegiado, com uma vista maravilhosa dos arredores.
Dependurada no morro, a casa tem um jardim de 800m2, que ocupa o recuo da estrada e chega à varanda da entrada. O cuidado com os detalhes começa ali e se espalha por toda construção. Cada uma das fachadas recebeu a mesma atenção e parece ser a principal. “Não existem frente e fundos”, explica Zanine. Quanto ao interior dos ambientes, “a casa em si já se decora”, diz ele. A intenção do arquiteto era de usar menos móveis possível para que a visão proporcionada pelos vidros, que circundam toda a casa, não fosse prejudicada. Conhecido pela forma artesanal com que trata suas obras, Zanine abusou das transparências para conseguir luminosidade natural e, assim, destacar ainda mais os ricos detalhes trabalhados a mão.
Toda estrutura é de madeira, com as vigas de maçaranduba, uma madeira muito resistente, que vence grandes vãos sem necessidade de mão-francesa – um elemento que, de acordo com Zanine, poderia comprometer a leveza e a harmonia do projeto. Outro capricho do arquiteto está na lareira. Construída com tijolos de 60 anos de idade, conseguidos de uma olaria abandonada, numa cidade de Minas Gerais, ela nem precisou de impermeabilização. “Como os tijolos eram do forno, ficaram mais de meia década cozinhando telhas e acabaram por se tornar super-refratários”, explica Zanine. Afinal uma casa, num local tão especial, concebida por um arquiteto com preocupações ecológicas, merecia um tratamento diferenciado.
CASA ANTIGOTEIRA
O madeiramento, quando exposto à luz da água, encharca e perde a resistência, comprometendo a estrutura. Por isso, Zanine impermeabilizou a cobertura: entre o forro e as telhas, colocou placas de isopor por cima da manta plástica para evitar que a água das chuvas vaze.
NA MEDIDA CERTA
Cortadas numa serraria já desativada da região (que fez o corte excepcionalmente para esta obra), todas as portas da casa são de peroba-mica. Feita a mão, a de entrada mede 3m de altura e tem uma tranca no lugar de trinco. As outras portas, com trincos normais, ficaram todas com 2,30m de altura.
SISTEMA DE ENCAIXE
A escada de maçaranduba, que leva ao andar superior, tem os degraus (60x20 cm ) encaixados como gavetas e não usa pregos ou parafusos na fixação. Já o piso de tábuas de peroba-mica é colocado segundo um sistema antigo: as tábuas são serradas com 25cm de largura, secam e recebem um sulco de 0,5cm de profundidade na parte de baixo, feito com serra circular, no sentido do comprimento.
Paredes de vidro em todas as áreas ampliam a vista
RESISTÊNCIA ARMADA
Debruçada sobre o despenhadeiro, a varanda é o local ideal para contemplar a natureza. O piso é de maçaranduba, e o telhado, sem laje e com beiral de 1m, tem 35% de caimento. As telhas artesanais (Cerâmica Ouro Preto) são tão resistentes que os cortes foram feitos com diamante.
QUADRO VIVO
Como a paisagem tem preferência neste projeto, uma dupla rara conquistou espaço num dos banheiros. A banheira ganhou de fundo uma janela de Blindex, da Santa Marina, que enquadra a montanha. O conjunto, viável por causa da altura do banheiro em relação ao terreno, é um convite ao relaxamento.